Os próximos textos deste blog irão inaugurar uma série de crônicas onde farei o possível para descrever minhas primeiras memórias. Não só as lembranças e sensações boas e agradáveis que tem sido o combustível dos textos e das canções que sempre escrevi. O foco dessa série estará nas situações desagradáveis, traumáticas, tristes e completamente dignas de serem "esquecíveis". Porém, que foram tão inevitavelmente marcantes, que acabaram por ficarem todas tatuadas em mim. E que, apesar de meu esforço para que sempre fossem tratadas apenas como um amontoado de lembranças banais - sempre tentei manter cada uma delas bem guardada em sua própria caixa, num espaço empoeirado e esquecido dentro de minha memória - viveram se repetindo em minha mente, minha alma e em minha história, como numa involuntária e insana maratona de filmes, que apenas eu poderia assistir e que, ao mesmo tempo, nunca teria o direito de poder de parar - mas que, mesmo enquanto eram evitadas, acabavam por definir cada uma de minhas escolhas e suas próprias consequências.
Foi intrigante e perturbador poder perceber que nossa própria negação nos oprime, enquanto nos define. Anos após ano.
Essa série também acaba se tornando uma oportunidade de poder fazer um relato fiel da região onde cresci e de onde sobrevivi. Um retrato do Jardim Ângela/Capão Redondo e suas imediações em plena década de noventa. Período em que em que nossa quebrada chegou a ostentar o infame título de bairro mais perigoso do planeta. Época em que cadáveres frescos pelas ruas e becos do bairro eram os únicos eventos capazes de atrair tantas pessoas, que se poderiam comparar com o que hoje chamamos de reuniões comunitárias.
Não será uma jornada necessariamente agradável, principalmente para mim. Mas acredito que será libertador poder abandonar de vez a ânsia de aceitação que tem definido a minha escrita desde sempre e, talvez, poder descobrir uma maneira realmente eficiente expressar, de me comunicar comigo e com o mundo.
Espero que possam tirar algum proveito dessa jornada.
"Para Ísis e por Ísis. Se tudo isso acabou por desaguar em tua existência e em seu sorriso, não haveria jamais o que me impedisse de viver as mesmas histórias novamente; de novo e de novo, por toda a eternidade...Só para poder chegar até a parte em que surgiu você. Pois o seu sorriso é meu Big Bang."